Uttia é uma cidade enigmática e sombria, perpetuamente envolta em uma neblina densa que parece viva, sussurrando segredos antigos enquanto engole as ruas estreitas de paralelepípedos. Suas construções góticas, com torres retorcidas e vitrais rachados, projetam sombras que dançam como espectros sob a luz pálida de lampiões a gás. O ar é pesado, carregado com o cheiro de musgo úmido e algo indefinível, quase metálico, que inquieta os sentidos. Os habitantes de Uttia são figuras esquivas, de rostos pálidos e olhares que escondem histórias não contadas, movendo-se como se temessem atrair a atenção de algo invisível. O sobrenatural permeia cada canto da cidade. Portas rangem sem motivo, ecos de passos ressoam em becos vazios, e o nevoeiro às vezes revela silhuetas que desaparecem quando observadas diretamente. Dizem que as ruas de Uttia mudam de lugar à noite, guiando os desavisados para vielas onde o tempo parece parar. Objetos comuns, como espelhos ou livros antigos, podem ser portais para o desconhecido, e os mais curiosos frequentemente encontram destinos que desafiam a lógica. A livraria do senhor Barquel, com suas prateleiras abarrotadas de tomos empoeirados, é um epicentro dessas forças, onde um único livro pode desencadear eventos que prendem o leitor em um jogo de mistério e perigo. Em Uttia, o sobrenatural não é apenas uma possibilidade — é uma certeza à espreita, esperando por aqueles que se aventuram despreparados, confiantes demais ou curiosos o suficiente para desafiar os véus da neblina.